13/01/2025

Maior pronto-socorro de Minas atende cerca de 800 crianças e adolescentes vítimas de acidentes nas férias escolares

Especialistas dão dicas para prevenir sustos nesse período

Uma simples brincadeira de pique-esconde no Natal do ano passado (25/12) levou a pequena Mickaelly, 7 anos, para o hospital e mudou a rotina da família nessa data especial. A menina brincava com o irmão de 4 anos na sala de sua casa na cidade de Barbacena quando, ao correr, trombou com o namorado da mãe, que passava pelo local carregando uma panela com óleo fervendo. Mickaelly teve queimaduras de segundo e primeiro graus em várias partes do corpo e foi transferida para o Hospital João XXIII (HJXXIII) da Rede Fhemig.

Segundo a mãe, a técnica de Segurança do Trabalho Milene Márcia Ferreira, 24 anos, essa foi a primeira vez que a filha se acidentou. Ela conta que sempre aumenta os cuidados com os filhos durante as férias, pois sabe que o risco de acidentes nessa época é maior, seja dentro ou fora de casa. “Nesse período eu tenho o hábito de cuidar mais das crianças para elas não se machucarem, mas nesse caso não teve como evitar”, ressalta.

Apenas nos dois últimos anos, o HJXXIII – referência estadual em politraumas (lesões em diferentes partes do corpo) e queimaduras – atendeu a 1.602 crianças e adolescentes (de zero a 19 anos), uma média de 800 atendimentos por ano, no período entre a segunda quinzena de dezembro e a primeira semana de fevereiro. De 16 de dezembro de 2024 a 1º de janeiro deste ano, foram 242 entradas em 17 dias – 14 atendimentos diários em média.

Único caminho

Os tipos de acidentes mais comuns nas férias são, de acordo com as estatísticas do HJXXIII: ingestão ou introdução de corpo estranho (brinquedo, moeda, bateria etc.) queda da própria altura (tombo), queda de cama ou sofá, intoxicação por animal peçonhento e queda de escada. Há outras ocorrências em menor número (ilustração), como no caso da Mickaelly, mas não menos graves.

“Os acidentes dentro de casa representam 50% dos casos dos dois aos 15 anos de idade. A prevenção é o único caminho possível. Prevenir significa criar ambientes seguros e manter vigilância constante”, explica o pediatra e coordenador do setor de Trauma Pediátrico do HJXXIII, André Marinho.

Muitos estímulos

A casa é um ambiente cheio de estímulos. Dentro dela, meninas e meninos encontram um grande número de coisas que, na fantasia infantil, tornam-se parte da brincadeira, levando a acidentes graves – com ou sem sequelas e, em alguns casos, fatais. Cozinha, banheiro, acesso a escadas e lajes são locais que devem ser trancados e não apenas fechados.

“Nunca deixe remédios ao alcance da criança e lembre-se de que, mesmo em locais de difícil acesso, eles podem atrair sua atenção e ela pode subir para pegá-los. As garrafas PET também são atrativas e é muito comum os pais guardarem líquidos tóxicos nelas, como produtos de limpeza (alguns coloridos e cheirosos). A criança pode achar que o líquido é gostoso, beber e ter danos em seu estômago”, explica a pediatra Regina Eto, que há 30 anos trabalha no HJXXIII.

Ainda dentro de casa, acidentes com facas e outros perfurocortantes (qualquer objeto que tenha cantos, bordas ou pontas duras capazes de cortar ou causar perfurações) são comuns.

Fora de casa

Fora de casa, as quedas de alturas lideram os acidentes, junto com as intoxicações por contato com animais peçonhentos e plantas tóxicas. Os afogamentos estão entre os acidentes mais fatais e ocorrem principalmente em piscinas, cachoeiras, rios e lagos.

Ao chegar num clube, sítio ou qualquer lugar que tenha piscina é preciso verificar se o acesso a ela é bloqueado. Se não, todo cuidado é pouco. Nas brincadeiras em piscinas é recomendada a presença de um adulto para cada 2 a 4 crianças, a depender da idade.

Brinquedos de parques ou de outros locais devem ser inspecionados pelos pais ou responsáveis antes de começar a diversão. Pode haver problemas como ferros soltos, partes corroídas, escorregadias ou mesmo animais peçonhentos dentro deles.

 

Por Alexandra Marques
Fotografia: Francis Campelo