01/12/2024

Dezembro vermelho lembra importância da prevenção do HIV/Aids

Nos últimos 3 anos foram diagnosticados quase 14 mil novos casos em Minas; hospital estadual é referência no atendimento especializado 

Tristeza e culpa. Esses são os sentimentos da Luzia Mendes*, de 46 anos, quando pensa no HIV. “Senti como se tivessem aberto um buraco e me jogado dentro, pois sei que poderia ter evitado”, afirma ela, emocionada, que contraiu o vírus por meio de uma tatuagem feita há 10 anos. “Tudo mudou desde que descobri a doença, há um ano. Minha vida virou de cabeça para baixo. Já não sou mais a mesma pessoa. Hoje, a minha rotina é de casa para o hospital e do hospital para a casa”, conta.

Casada e mãe de dois filhos, ela vem se dedicando a cuidar da sua saúde e agradece todo o apoio que vem recebendo da família. “Estou fazendo meu tratamento, venho a todas as consultas, tomo meu coquetel de remédios certinho. Estou indetectável. Qualquer exame que eu fizer, não consta mais que tenho o vírus”.  

Luzia é uma das cerca de 3.500 pessoas assistidas por ano no Hospital Eduardo de Menezes, da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), referência estadual em infectologia e dermatologia sanitária. A unidade conta com equipe multidisciplinar, tratando os pacientes não somente do ponto de vista medicamentoso, mas também social e psicológico.

Para Marcelo Esteves*, de 37 anos, também paciente do HEM, quando se pensa no HIV o sentimento principal é medo. “Tenho medo o tempo todo. Medo de contaminar outras pessoas, de gripar, de sair na chuva, de tomar banho frio. Tenho medo dos meus amigos descobrirem. É tudo muito novo para mim”, afirma. 

Ele conta que descobriu a doença há dois meses e, desde então, tudo mudou. “Sempre me cuidei muito e, justo quando entrei em um relacionamento com uma pessoa que amava, contraí o vírus. Tem sido um processo muito doloroso para mim e minha família. Sempre fui uma pessoa que malhava, cuidava do corpo e, em pouco tempo, já perdi bastante peso. Entendi que não vou morrer de HIV, pois vou fazer o tratamento corretamente, mas sei que nunca mais minha vida será como antes”. 

Aumento de casos 

Segundo a diretora de Vigilância de Condições Crônicas da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), Ana Paula Mendes Carvalho, o número de casos de doenças sexualmente transmissíveis tem crescido nos últimos anos. “A SES realiza continuamente a compra e a distribuição de insumos de prevenção, como preservativos femininos e masculinos, que a população pode acessar nas unidades básicas de saúde”, afirma. 

Ela explica ainda que a prevenção combinada reúne diversas estratégias, adaptadas às necessidades individuais e contextuais, visando à saúde integral das pessoas.“Em caso de relação sexual desprotegida, sem uso de preservativo ou quando há rompimento dele, é aconselhado que o cidadão procure uma unidade de urgência e emergência, como as unidades de pronto atendimento ou os hospitais, em até 72 horas, para utilizar essa medida de prevenção”.

Atualmente, Minas possui 75 Serviços de Atendimento Especializado (SAE), Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) e Unidades Dispensadora de Medicamento (UDM), em 65 municípios, que realizam assistência especializada às infecções sexualmente transmissíveis, com consultas multiprofissionais.

Assistência especializada 

A chefe da Unidade de Pacientes Externos do Hospital Eduardo de Menezes, Luciana Paione de Carvalho, explica que a primeira consulta na unidade acontece por meio de encaminhamento feito pelos centros de saúde dos municípios. “A partir da primeira consulta, ele passa a ser acompanhado em definitivo pelo HEM. Aqui, contamos com quatro serviços no Ambulatório: infectologia para pacientes com HIV/Aids, infectologia geral (que atende pacientes que vão fazer uso do Prep ou do PEP), Hospital Dia para pacientes que precisam receber medicações semanais, e o CTA, onde a população pode realizar o teste de HIV anonimamente. Além disso, os pacientes podem pegar toda a sua medicação aqui mesmo na unidade”. 

 


Por Aline de Castro (Fhemig) e Eduardo Wanderley (SES-MG)
Foto: Rafael Assis 

*Nomes fictícios, utilizados para preservar as identidades dos pacientes