28/03/2023

Hospital João XXIII completa 50 anos como referência em salvar vidas

Profissionais de saúde ressaltam diferenciais de um dos maiores prontos-socorros da América Latina; especializado em politraumas, queimaduras e intoxicações, o João XXIII é responsável por 80 mil atendimentos por ano 

Um hospital que salva vidas. Com seus 477 leitos e cerca de 2.700 servidores, divididos em terapia intensiva e enfermarias, assim é conhecido o João XXIII (HJXXIII), que completa 50 anos de atuação em 4 de abril, é um dos maiores prontos-socorros da América Latina e referência nacional no atendimento a politraumatizados. A unidade está localizada em Belo Horizonte e pertence à Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig).

Diariamente, as equipes multidisciplinares do João XXIII atendem, com a expertise pela qual são reconhecidas, motociclistas acidentados, pessoas atropeladas, feridas por armas brancas e de fogo, queimadas, crianças engasgadas com corpos estranhos ou com fraturas depois de levarem uma queda. A maioria chega em extrema gravidade, e sai do hospital com vida.

Para os profissionais que atuam na unidade, há diferenciais que levaram o João XXIII para esse patamar de reconhecimento. Na opinião da gerente médica Daniela Fóscolo, o que há de mais rico na instituição são os recursos humanos de excelência. “Temos reunidos aqui alguns dos maiores especialistas do estado, com a capacidade de tratar lesões muito graves. Além disso, as equipes, tanto as médicas quanto as multiprofissionais, estão disponíveis para realizar um tratamento eficaz em um tempo muito curto”, explica a cirurgiã.

Diferenciais

O HJXXIII conta, além das equipes médicas e de enfermagem, com técnicos de várias áreas, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, servidores administrativos e tantos outros profissionais que se dedicam nos plantões. “Desde sua admissão no hospital, o paciente é atendido de forma global, tendo ele e sua família todo o suporte e acolhimento necessários no encaminhamento hospitalar -, seja para cirurgia, UTI ou internação, até o momento da alta”, explica a assessora da gerência da equipe multidisciplinar, Andréa Mendes. “Muitas vezes, um hospital que possui recursos mais modernos, não consegue conciliar o trabalho de tantos profissionais com essa velocidade e de forma tão harmoniosa”, completa Daniela Fóscolo.

Este cenário pode ser visto na Sala da “Onda Vermelha”, localizada dentro do bloco cirúrgico, onde casos gravíssimos chegam após o soar de uma sirene e são estabilizados. Neste setor, completamente equipado para esse perfil de usuário, pacientes desenganados podem receber uma segunda chance de vida. “Quando um paciente chega na onda vermelha, toda a equipe já se desloca para a porta da sala. Tudo isso acontece em torno de 1 minuto, 1 minuto e meio”, conta a coordenadora do bloco cirúrgico, Janaína Rodrigues.

O gerente assistencial do João XXIII, Rodrigo Muzzi, atua na unidade desde que era universitário e se diz um apaixonado pelo hospital. Ele lembra que, com 50 anos focados no politraumatismo, a estrutura do hospital foi sendo direcionada para esse tipo de atendimento. “Nossa sala de reanimação é maior do que a de emergência de muitos hospitais”, revela. O médico também cita a identificação profunda dos profissionais com a instituição como um diferencial. “A maioria da nossa equipe médica e de enfermagem é formada aqui dentro, então temos um entrosamento para prestar atendimento à população. As pessoas estão aqui porque amam.”, afirma Muzzi. Daniela Fóscolo acredita que atuar em uma instituição com tamanha relevância exige grande responsabilidade. “Nosso dom é tratar o politraumatizado e múltiplas vítimas, e todo o corpo clínico abraça essa missão”, finaliza a médica.

Parceria que salva vidas

Os profissionais do HJXXIII ainda contam com grandes aliados fora da unidade. As equipes de resgate dos bombeiros e do SAMU de BH há décadas estão na linha de frente da assistência pré-hospitalar e têm o João XXIII como componente fundamental nos atendimentos de urgência.

O diretor do Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (SAMU) de Belo Horizonte, Roger Lage Alves, também iniciou o contato com a urgência e emergência dentro do João XXIII, onde realizou residência e se formou como cirurgião do trauma. Para o diretor, o HJXXIII é a linha assistencial primordial e de referência para o SAMU, oferecendo a continuidade da assistência pré-hospitalar em tempo ótimo e com qualidade. “Quando uma ambulância do SAMU se dirige ao ‘João’, temos certeza de que o paciente será acolhido e assistido com as melhores práticas, seguindo os protocolos internacionais mais atualizados no manejo do politraumatismo”, afirma Alves.

Já a parceria com o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, fortalecida em 1994 com o sistema Resgate, se consolidou com a inauguração do heliponto do HJXXIII em 2010. Com isso, foi possível reduzir o tempo resposta do atendimento dos pacientes e a mobilização de recursos, além de estreitar o fluxo assistencial. “Quando atendemos uma vítima com aeronave, o médico de plantão no Batalhão de Operações Aéreas (BOA) já repassa o estado de saúde do paciente para as equipes do João XXIII, garantindo uma comunicação direta entre os profissionais e uma preparação antecipada por parte do hospital”, explica a tenente Laura Zaidan. A militar ainda destaca as ocorrências envolvendo múltiplas vítimas, e como a parceria entre as instituições foi fundamental em episódios como a tragédia na Creche Gente Inocente, em Janaúba, e do rompimento da barragem em Brumadinho. “A cooperação entre os Bombeiros e o HJXXIII é algo emocionante de se falar e relembrar, seja como bombeira ou como mineira”.

Atendimentos e números

O HJXXIII realiza mais de 80 mil atendimentos por ano que, em 2022, resultaram em mais de 7 mil cirurgias, 10.500 internações, 13.300 consultas especializadas e 1,3 milhão de exames realizados. Acidentes automobilísticos, desde a fundação do hospital, trazem os casos mais graves à unidade, sendo que com o aumento da segurança dos veículos nos últimos anos, vítimas que, antigamente, iriam à óbito sobrevivem, mas chegam ao pronto-socorro com lesões muito sérias.

Cerca de 8 mil do total de atendimentos são de vítimas de acidentes de trânsito. Muitas destas ocorrências envolvem motociclistas, o segundo lugar em atendimentos no pronto-socorro – são mais de 4 mil casos atendidos por ano, sendo que mais de 3 mil são homens de 20 a 40 anos. Em primeiro lugar nos atendimentos estão as quedas: o Hospital João XXIII atende, em média, 15 pessoas por dia devido a quedas da própria altura, sendo que mulheres com idades entre 51 e 60 anos são a maioria nesse tipo de acidente.

Mais de 11 mil dos usuários atendidos são crianças de 0 a 11 anos, que chegam principalmente por motivos clínicos e ingestão ou aspiração de corpos estranhos, este o terceiro lugar de casos isolados atendidos no HPS – em 2022 foram 4.315 casos. Acidentes como esses acontecem principalmente em ambientes domésticos, assim como queimaduras.

Quando uma pessoa sofre uma queimadura grave ou é picada por um animal peçonhento, como um escorpião, não há dúvidas – o HJXXIII é o destino para a vítima. O Centro de Tratamentos de Queimados Ivo Pitanguy (CTQ), localizado na unidade, é o único de Minas Gerais com leitos e equipes exclusivas para tratamento de queimados de alta complexidade e a longo prazo. O seu CTQ atende cerca de 1.500 pacientes queimados por ano, sendo que mais da metade são queimados por líquido livre. Recentemente, o CTQ vem atuando como principal referência na ampliação da rede estadual de atenção ao queimado, conduzida pela Coordenação Estadual de Atenção às Urgências e Emergências da Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG).

Já o Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Minas Gerais (CiaTox-MG) existe desde antes da construção do prédio, migrando na década de 70 para o HJXXIII. São 25 mil casos por ano de intoxicações por medicamentos, pesticidas, animais peçonhentos. O setor contabiliza o maior número de atendimentos de intoxicações agudas do Brasil, tanto presencial quanto remoto.

Por Anni Sieglitz

Fotos: Fábio Marchetto e Anni Sieglitz